Mapeamento de espécies

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11ª edição da Jornada de Enfermagem.

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Grandes reflexões marcam 11ª edição da Jornada de Enfermagem
Encontro discutiu questões de gênero, raça e saúde da mulher.


O ambiente de bate-papo em uma sala de estar caracterizou a XI Jornada de Enfermagem da Bahiana que, neste ano, aconteceu nos dias 22 e 23 de maio, no Campus Cabula, e convidou os participantes a refletirem sobre o tema "Mulher: Saúde, Gênero e Raça". A "sala de estar" de abertura contou com as falas do pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Senso, prof. Atson Fernandes, da pró-reitora de Ensino de Graduação e Pós-Graduação, prof.ª Maria de Lourdes de Freitas Gomes, da coordenadora de Desenvolvimento de Pessoas, prof.ª Luiza Ribeiro, e da coordenadora do curso de Enfermagem, prof.ª Simone Passos, além das falas das convidadas Tânia Bulcão, presidenta da Associação Brasileira de Enfermagem – Sessão Bahia, Lúcia Moliterno, presidenta do Sindicato das Enfermeiras e Enfermeiros do Estado da Bahia e Joana Evangelista Conceição Silva, conselheira do Conselho Regional de Enfermagem da Bahia (COREN-BA). As palavras de abertura foram da coordenadora geral da Jornada, a prof.ª Mariana Nossa.

Tânia Bulcão parabenizou a Bahiana pela escolha do tema. Ela reconheceu o papel da Escola de resistência frente a algumas medidas do atual governo federal, além de reafirmar o compromisso da ABEN na defesa das universidades de qualidade: "A ABEN está empenhada em lutar contra os retrocessos que temos vivenciado no país. Somos a favor das universidades públicas e particulares de qualidade, como é o caso da Bahiana". Tânia também ressaltou o diálogo que a Bahiana mantém com as comunidades, por meio dos programas de extensão, "que são de extrema importância. Isso é transformador, pois leva os estudantes a dialogar e aprender com a comunidade, e a comunidade a aprender com a universidade, o que transforma uma realidade social".

Joana Evangelista Conceição Silva citou algumas iniciativas do COREN relacionadas ao tema da Jornada, a exemplo das questões raciais e de gênero. “A questão da mulher, gênero e raça aqui é realmente uma escolha gratificante. É bom que se discuta sobre isso. É necessário discutir sobre o quanto temos um número grande de feminicídio. É importante dizer que precisamos gritar que parem de nos matar!" Ela também destacou as ações do Comitê Técnico de Saúde da População Negra, que discute a questão de doenças como anemia falciforme, hipertensão e outras enfermidades que atingem a população negra.
Em sua fala, a prof.ª Maria de Lourdes de Freitas Gomes relatou um pouco do histórico do curso de graduação em Enfermagem, do qual foi a primeira coordenadora. O prof. Atson Fernandes pontuou a importância de se documentar a produção intelectual gerada em eventos, como a Jornada de Enfermagem, e como essa compilação de dados pode contribuir futuramente para o arcabouço acadêmico e profissional da área.

"É uma alegria estarmos juntos e poder falarmos de enfermagem, da mulher, falar de preconceito e de racismo. O tema dessa jornada foi construído coletivamente. Ele nasceu de uma orientação da prof.ª Luiza Ribeiro, que pediu que cada curso tentasse discutir o racismo. Porque esse seria o tema discutido pela Bahiana ao longo de 2019", explicou a prof.ª Simone Passos. "Estamos inseridos dentro da Bahiana, que é uma escola de vanguarda que discute temas sociais, emergentes e importantes."

Arte e Cultura

Poesia
A temática do racismo foi abordada pela aluna do segundo semestre de Enfermagem Thamara Nascimento, que, na ocasião, declamou o poema de sua autoria, "A ferida que me despe", já apresentado na edição de 2019 do Circuito de Poesia.

Dança
Como já é uma característica dos eventos acadêmicos da Bahiana, a manifestação de linguagens artísticas fez-se presente na programação, com a apresentação do grupo de dança de jovens e adolescentes da ACOPAMEC, iniciativa cujo principal objetivo é promover o autoconhecimento por meio de oficinas de dança.

Artes visuais
"O Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial de feminicídio"; "Em 2017, 60.018 mulheres foram vítimas de estupro no Brasil"; "Nos 5 primeiros meses de 2017, foram registrados 15.751 casos de violência contra mulheres na Bahia"; "Em 2018, foram registrados 4.461 feminicídios no país"; "9 mulheres brasileiras foram vítimas de agressão por minuto em 2018". Estes foram alguns dados apontados pela Comissão de Arte e Cultura da Jornada, por meio de um videoclipe que contou com as performances das professoras Cristiane Magali, Mariana Nossa, Alexandra Noemi Silva, Rosicleide Araújo Freitas, Ana Maria Cruz Santos e Ana Shirlei Maranhão Vieira.  O vídeo, que foi idealizado pelo professor do curso de Enfermagem Artur Gomes Dias Lima, é o desdobramento de uma exposição fotográfica na qual as professoras aparecem caracterizadas como vítimas da violência contra a mulher.

Conferência
Ainda na parte da manhã, a enfermeira, pesquisadora e professora do curso de Enfermagem da UFBA Sílvia Ferreira apresentou a conferência "Gênero, Saúde e Enfermagem". Entre as questões levantadas pela palestrante, destacaram-se a reflexão "Se temos tantos indicadores e procedimentos para cuidar, por que os dados de óbito de mulheres ainda permanecem os mesmos? ”.

Inovação
A edição de 2019 da Jornada de Enfermagem trouxe algumas novidades, a exemplo de uma participação mais efetiva dos estudantes na organização. Segundo a prof.ª Mariana Nossa, no momento da escolha do tema a ser abordado, os estudantes foram ouvidos. Com o uso de um software, foi elaborada uma nuvem de palavras que eram escolhidas pelos alunos: “Aí a gente foi catando o que eles gostavam, o que queriam saber, quais eram as demandas, as necessidades e depois, junto com o corpo docente, a gente alinhou essas respostas com os propósitos maiores da instituição – discutir a questão do racismo e da mulher –, porque a gente não pode ignorar o fato de a enfermagem enquanto profissão ter uma imagem de eminentemente feminina e que trata historicamente dessas questões de gênero”. Ao todo, a Jornada teve 154 inscritos.

Outra inovação foi a ocupação de mais espaços com a feira do empreendedorismo, que reuniu os profissionais de saúde com os seus produtos e iniciativas.
"Encontrei, no Empreendedorismo, o meu hobbie, a minha paixão e a saída para vencer os meus desafios de ordem familiar e econômica, transformando-o em muito mais do que uma fonte de renda, transformando-o na minha carreira", a fala é de Ane Vasconcelos, aluna do curso de Enfermagem da Bahiana, que, para a sustentabilidade de sua família, começou a produzir e comercializar doces e salgados, por meio do seu perfil no Instagram: @aneecelos. Ane, que também atua como técnica de enfermagem, fala que as duas atividades têm em comum o cuidar do outro: "Dentro da saúde, eu pude conhecer o empreendedorismo e comecei a fazer bolos. Hoje realizo as duas atividades, cuido por meio da atividade de técnica de enfermagem e também vou acolhendo e adoçando a vida das pessoas de outra forma.  Eu amo o que faço, ir aos hospitais, cuidar, ouvir, prestar esse serviço, pois entendo que nós estamos aqui para servir".

Além das outras expositoras, a feira também foi o espaço para o lançamento do livro "Gestão, Assistência e Ensino no Hospital Geral Roberto Santos – Evidências do Cuidado de Enfermagem no Sistema Único de Saúde", que foi organizado pelas enfermeiras Aldacy Gonçalves Ribeiro, Carina Marinho Picanço e Rudval Souza da Silva.

A primeira manhã de atividades foi finalizada com o 6º Encontro de Egressas de Enfermagem, onde as convidadas compartilharam com as estudantes presentes suas experiências acadêmicas e profissionais, destacando os diferenciais que o curso de Enfermagem da Bahiana proporciona no ingresso ao mercado de trabalho.

Práticas
A tarde do primeiro dia de jornada foi de atividades práticas. Nesse sentido, foram realizadas as oficinas com os temas: "Práticas Profissionais de Saúde: como (re)agir diante da diversidade sexual e de gênero?", dirigida pela Liga Acadêmica de Sexualidade e Gênero (LASG); "Necessidades da Saúde de Mulheres em situação de rua e seus manejos", realizada pelo prof. Jean Freitas; "Parto humanizado e técnicas não farmacológicas para alívio da dor", com a enf.ª Jordana Brock Carneiro e "A atuação da enfermeira na prevenção do câncer de colo de útero e ISTs: testes rápidos e abordagem sindrômica", realizada pelas enfermeiras Bárbara Perez e Ana Paula Vidal.

2º Dia
Mais uma vez, o clima de "sala de estar" foi formado no Talk Show, evento organizado pela coordenadora de Desenvolvimento de Pessoas da Bahiana, Luiza Ribeiro, no segundo dia da Jornada. Ela recebeu as conferencistas convidadas: Cíntia Mesquita, enfermeira do Núcleo de Estudo e Prevenção do Suicídio – NEPS, do Hospital Geral Roberto Santos, Cíntia Maria Carvalho, enfermeira obstétrica e Carle Porcino, psicóloga e doutoranda no programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde da UFBA.

O suicídio como consequência de maus-tratos no próprio lar foi o enfoque da fala de Cíntia Mesquita, na conferência "Representações do suicídio por mulheres com história de violência doméstica". Na ocasião, ela apresentou o trabalho desenvolvido no NEPS, um depoimento que foi ilustrado pelo vídeo "Como lidar com a depressão e o comportamento suicida?" 

"Violência obstétrica e os impactos na saúde da mulher" foi o tema da fala de Cíntia Maria Machado, assunto que levantou um forte debate entre os participantes da Jornada. "Achei enriquecedora essa oportunidade de estar aqui hoje e poder realizar essa troca maravilhosa e feliz. Espero ter agregado aqui valor e reflexões para que os presentes possam levar e transformar os espaços onde estiverem inseridos. Eu acredito muito no poder dos estudantes, na Bahiana, nos professores e na educação que se dá em todos os espaços", declarou.

A fala de Carle Porcino, a respeito de como as questões de gênero devem ser abordadas nos ambientes de saúde, foi o mote da conferência "Especificidades no acolhimento e cuidado dispensados às pessoas trans e travestis por profissionais de enfermagem". Além de dados oriundos de pesquisas, ela compartilhou com os presentes as suas experiências pessoais como uma mulher trans em convívio com a comunidade LGBT nas unidades de saúde do sistema público.
"Eu, como pedagoga, me senti realmente desafiada em mediar uma conversa contemporânea, sim, e voltada para a saúde, mas com pessoas tão especiais. As três temáticas me mobilizaram muito. Eu estou muito mais tocada, como eu disse aqui em público.  Saio pensando em muitas coisas, saio emocionada e feliz de ver os estudantes de Enfermagem ligados, participando e, com certeza, isso vai dar um salto quântico na formação deles. Parabéns à comissão da Jornada e a nossa Simone Passos, coordenadora dessa orquestra linda, obrigada", declarou emocionada, ao fim do Talk Show, a prof.ª Luiza Ribeiro.

“O balanço que eu faço da Jornada é que foram dois dias muito intensos e de muita discussão. E eu acho que o objetivo principal é despertar essa semente da dúvida do "eu não sabia", da reflexão. Então eu acho que, se as pessoas minimamente saírem daqui refletindo sobre ‘o que eu fazia e o que eu posso fazer de diferente’, a gente terá atingido o nosso objetivo. A Jornada pôde despertar nesse corpo discente a necessidade de (trans)formação e aí, quando eu coloco esse “trans” entre parênteses, eu me remeto tanto aos processos transformativos quanto aos processos de transexualização, que foi um dos pontos abordados por Carle”, pontua Mariana Nossa.

A temática de toda a jornada despertou reflexões profundas como a da professora Cristiane Magali, que pediu a palavra ao término da atividade:
Eu sinto que muita gente que está aqui gostaria de falar. Já há muito tempo que eu faço uma trilha de reconhecimento e entendo que nós não somos corpos. Eu acho que é importante a gente localizar o que todas essas pessoas aqui disseram, especialmente no lugar de profissional da área da saúde, e que nos levou a refletir que nós não somos apenas corpos, mas que existem pessoas, energias que habitam esses corpos.  Que a gente possa sair daqui hoje, depois desses dois dias, já refletindo, como estudantes e como profissionais, que, cada vez que uma pessoa daquela está na nossa frente, a gente precisa respeitar a energia e a pessoa que habita aquele corpo (...). E eu digo isso do lugar de docente, enfermeira e, principalmente, educadora, porque acho que nós, também educadores, em alguns momentos, violamos os corpos dos nossos alunos. E eu não estou falando da invasão e da violência a um corpo por procedimento, mas há corpos que falam das suas dores, e que a gente tem, às vezes, uma outra exigência do nosso lugar de poder e de saber quando a gente define o que o aluno precisa aprender. Então eu acho que foi rica demais (a Jornada), para além do profissional, da mulher, para o nosso ser, que, de verdade, somos. E quando eu disse que eu não estaria falando sozinha, é porque hoje eu tenho uma outra consciência em mim: que eu sou eu com nós. Eu não me percebo mais um ser que, apesar de ser único, individual e precisar ser respeitado, só consegue ser ser (ser humano) sendo com os outros. Isso, pra mim, é de uma verdade tão grande hoje que qualquer coisa que seja contrária a isso me destitui de mim mesma.

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